4.09.2011

escuro

Eu estive por muito tempo pensando nos amigos que ficaram pra trás. Quem eram os amigos. Os verdadeiros amigos. Sempre esperaram por mim. Eu ainda sinto o mesmo pelas pessoas que ficaram no meio da minha estrada. Eu pedia a mim mesmo que esperasse por mim. E o tempo passou enquando eu contava apenas dias. E nossos dias foram para sempre em forma de vários anos. Encontrava na esquina uma vida tola, um ser descontente com quem era. Com quem esperava que eu fosse. Eu desligava os sentimentos esperando encontrar simpatia em vidas similares, que não sabiam se aquietar no meio das horas pra viver o que há de ser vivido pra poder-se chamar de vida. Achávamos que a loucura era a resposta a angústia extrema que sentíamos por estar ali. Mas os anos chegaram e nos empurraram para um mundo que não nos esperáva. Alguns poucos conseguiram agarrar ao que ficava pra trás. Nenhum conseguiu lembrar das amizades. Todos trocaram as vontades e desejos pelos sentimentos tolos e promessas vazias de que você esqueceria quem se é por um dia.

E então dormiamos. E acordávamos. E pensávamos no que faríamos porque tínhamos todo o tempo do mundo. E tudo passava. E o círculo que fazia de nós o que éramos nos contava que era aquilo que tínhamos a fazer. Se você fugisse do que sentia por um dia, conseguia ver o círculo. E conseguia voltar, por mais estúpida que essa decisão pudesse ser. Ela nos arrancava o peito. Nos fazia de gente a nada. A bonecos que assistiam o amanhecer da mesma cor. Se houvesse tempestade, podíamos nos esconder embaixo de marquises. Acender um cigarro e continuar sendo aquilo, aquela distância de tudo. E os medos continuavam sendo nossos próprios. E o tempo continuava a nos agradar por vontade de ver o que se passava por sua única veia. A que dizia que envelhecíamos conforme esperávamos. Esperávamos poder ter algo a fazer depois do que fazíamos naquele momento. Éramos. Éramos tão jovens enquanto esperávamos pelo próximo entertenimento. Pela próxima corrida. O próximo sentimento artificial que pagávamos com o dinheiro que nao tínhamos. Era seu. Era meu. Era o que deveria ter sido nosso futuro.